quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ENTREVISTA: ELLEN OLÉRIA.

A vencedora da primeira edição do The Voice Brasil, a brasiliense Ellen Oléria deu uma entrevista para o site de noticias Correio e fala sobre suas expectativas futuras na carreira, além de se preparar para grandes eventos nacionais como o Reveillon de Copacabana e o Festival de Verão.

Ellen Oléria - Campeã do The Voice Brasil
Na semana seguinte ao domingo em que foi declarada vencedora do programa The Voice Brasil, Ellen Oléria, 30 anos, estava abafada, procurando tempo para receber uma massagem. Pelo telefone, ela falava com o seu “velho”, explicando que não conseguia encontrar com a mãe, que viajou com ela para o Rio de Janeiro, para a final do programa da Globo/TV Bahia. O que mudou após a vitória? “O assédio da imprensa aumentou”, brinca a cantora, com a voz abençoada e fanhosa de gripe.

“O corpo está bem tenso com as mudanças, mas não dá para descansar agora”, fala. Na agenda da moça, dois compromissos de peso: fazer show da virada de ano em Copacabana, no Rio; e se apresentar no Festival de Verão Salvador, em 18 de janeiro.

Do outro lado da linha telefônica, a cantora brasiliense demonstra com a mesma simpatia e espontaneidade que conquistou o público brasileiro, desde que o The Voice começou, em 23 de setembro, e até a final, dia 16 deste mês. No encerramento do programa, Ellen emocionou milhões de espectadores com dois números. Primeiro foi Anunciação, de Alceu Valença, e depois interpretou Taj Mahal, de Jorge Benjor. Recebeu 39% dos votos, batendo Maria Christina, Liah Soares e Ju Moraes.


Ellen se apresenta no palco Estúdio do Som Faculdade Maurício de Nassau do Festival de Verão, na noite de sexta, no mesmo espaço e dia em que cantam Alex Góes & Eva Cavalcante e Tulipa Ruiz. O público pode aguardar por um competente repertório de sambas, afoxés, jazz e hip hop. A artista vem com a banda dela, a Pret.utu.

Tocar no Festival de Verão vai representar para a artista “estar em casa, encontrando o povo baiano mais uma vez”. E ela vem com o arsenal poético e a banda – da última vez fez voz e violão. “A gente vai chegar com tudo”, promete.


Esta é a primeira vez de Ellen no evento sediado no Parque de Exposições. Mas não na Bahia, onde já esteve algumas vezes e diz se sentir à vontade quando caminha pelas ruas e encontra uma mulher “parecida com ela a cada esquina”.

EMOÇÃO
Em Salvador, Ellen diz que se sente parte do ambiente, encontrando olhares muito atentos ao seu cabelo, ao seu tamanho. Conta que as pessoas sempre a olharam muito e por isso teve a sensação de transitar em um lugar que também era dela. E, além de tudo, tem a questão da consciência negra.

“Muitas coisas começam neste lugar, que é modelo de negritude no nosso país”, considera a cantora que entoa, na música Testando: “O imaginário dessa gente dita brasileira é torto/ Gritam pela minha pele, qual será o meu fim?/ Eu não compactuo com esse jogo sujo/ Grito mais alto ainda e denuncio esse mundo imundo/ A minha voz transcende a minha envergadura/ Conhece a carne fraca? Eu sou do tipo carne dura”, anota na canção de sua autoria, que integra o álbum Peça (Independente, 2009).

A primeira vez que ela veio cantar sozinha em Salvador foi há pouco mais de dois anos, no bar Sankofa, Pelourinho, a convite de Nelson Maca, um poeta “muito poderoso”, enaltece.

“Vi a casa lotada de pessoas lindas, prontas pra me escutar e pedindo as minhas músicas, pelo nome delas. Estranhei, era a primeira vez que saía de Brasília para fazer show”, conta. Embora a justificativa inicial da empatia tenha sido a força da internet, Ellen diz que logo compreendeu o motivo de tantas pessoas envolvidas com a sua poesia.

“Entendi também que talvez estas marcas históricas que trago no meu corpo me conectem com as pessoas”.

Outra aproximação com a Bahia se deu no Carnaval, quando ela, em cima do trio elétrico do Bloco Okánbi, cantou o repertório do grupo. “O bloco afro tem a força poderosa dos tambores, que eu sei que curam, e participei disso através de Jorjão Bafafé, figura emblemática na música brasileira, criador do bloco Badauê, que me recebeu com carinho e compartilhou a luz da sua estrada comigo”. Ellen também participou de edições do Sarau Bem Black, no mesmo Sankofa.

Para vencer Na hora em que cantou a música Zumbi, de Jorge Benjor, na Prova Cega do The Voice, Ellen conquistou os jurados. Unânimes, eles se viraram para a figura que cantava no palco. Cabia a ela, então, escolher qual seria o seu mentor. Decidiu que seria Carlinhos Brown, por uma questão de afinidade e admiração pela obra do baiano, deixando na mão Lulu Santos, Claudia Leitte e Daniel.

“Eu me lembro de discos mais antigos e apaixonantes da Marisa Monte. Eu ia olhar a ficha técnica e o nome de Brown estava em todos os cantos,na letra, na levada, no coro. Eu sempre me identifiquei com o som dele”, narra e continua: “Eu tento me espelhar nesta versatilidade de Brown, assim como ele eu trabalho mais com o encontro intuitivo com os instrumentos do que com o ensino sistematizado”, considera Ellen, que é atriz formada pela Universidade de Brasília.

Ainda sobre o mentor, ela diz que espera que a relação tenha continuidade. A cantora já confirmou presença no Sarau do Brown, em 2013.

Ellen conta que a escolha das músicas que interpretou no programa foi, na maior parte do tempo, coletiva, e que seu produtor musical, Alexandre Castilho, participava dos fóruns. Era um debate entre uma equipe grande de técnicos, produtores e músicos. Com a vitória, além dos R$ 500 mil, assinou contrato com a gravadora Universal Music para a gravação de um álbum.

Quem via Ellen Oléria no palco do The Voice achava que ela não ficava nervosa. Na plateia ela contava, além da torcida da mãe, com o apoio da namorada Poliana Martins, que também é sua sua assessora. Provavelmente, as experiências anteriores da artista em disputas musicais tenham sido um trunfo tranquilizante. Ellen coleciona várias premiações em festivais de Brasília, incluindo três Prêmios Sesc de Música Tom Jobim.

Sobre as influências, ela elogia a música brasileira - “que deveria sempre ser tratada como música do mundo”. Ellen pinça para seu estilo musical elementos culturais diversificados, como o carimbó e o rock alternativo.


ABRIR PORTAS
Sobre as expectativas em relação ao reality show, a cantora considera que entrou no projeto em busca de um resultado positivo. “Mas entrei no The Voice pensando mais no caráter de mostra, queria apresentar nosso trabalho, meu e da banda, para o Brasil, abrir portas. De fato, eu acredito que todas as cantoras que ficaram na final tinham reais possibilidades de ganhar”. 

A intérprete, que arrebatou público e jurados com a interpretação de Zumbi, diz ter se emocionado quando ouviu a música na gravação de Caetano Veloso e quando gravou a composição com sua banda. “Trazer esta emoção pro público, acho que este é desafio do artista”, fecha questão.

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